A dor e a delícia
No ar em "Babilônia", Adriana Esteves fala das superações e surpresas da profissão de atriz
Geraldo Bessa - TV Press
Adriana Esteves se esforçou muito para chegar onde está. A resposta
para as críticas que recebeu no início da carreira são os muitos prêmios
e vários papéis de protagonistas que ela ostenta no currículo. Aos 45
anos, Esteves sabe que não precisa provar mais nada. No entanto, não
consegue viver estagnada. E é com curiosidade e fôlego de iniciante que
ela fala de Inês, sua invejosa personagem em Babilônia. "O mais
interessante da carreira de atriz é o quão tudo pode ser surpreendente.
Quando você acha que já fez de tudo, vem uma personagem e te faz buscar
novas referências e seguir por outros caminhos. Inês é exatamente esse
tipo de papel. Acredito que eu ainda estou a encontrando", explica.
Com reconhecida versatilidade e tendo trabalhado com autores dos mais
diversos, a participação na atual novela das nove marca o encontro de
Esteves com o texto elegante de Gilberto Braga. "Sempre fui fã das
novelas dele. Fiquei bem nervosa quando fui convidada", entrega, com os
olhos atentos que ainda lembram a jovem modelo que ganhou um concurso de
atuação no Domingão do Faustão, em 1989.
Foi por conta dessa vitória que a atriz teve sua primeira
oportunidade na tevê, um papel pequeno na clássica Top model. A partir
daí, se destacou em novelas como Meu Bem, Meu Mal e Pedra Sobre Pedra.
Mas também teve de enfrentar uma enxurrada de críticas pela complexa
Mariana de Renascer. Após uma breve passagem pelo SBT, retornou à Globo e
ao posto de protagonista em A Indomada, de 1997. "Tudo o que passei me
ajudou a ser a atriz que sou hoje", analisa Esteves, que ainda teria
outros momentos de destaque em produções como Dalva e Herivelto uma Canção de Amor, de 2010, e na popular Avenida Brasil, de 2012. "A vida
não é só ganhar. É preciso entender isso e saber seguir em frente",
afirma.
Suas últimas personagens na tevê, em produções como Avenida
Brasil e Felizes para sempre?, tiveram forte carga dramática. Continuar
nesta linha de atuação foi uma decisão sua?
Eu não traço planos do tipo "agora vou fazer apenas comédia" ou
"chega de fazer personagens densas". Os convites vão aparecendo e vou
vendo o que me instiga, para qual caminho quero seguir. Embora sejam
personagens fortes, dramáticas e insatisfeitas com suas trajetórias,
Carminha, Tânia e Inês são extremamente diferentes.
Avenida Brasil foi exibida em 2012 e Carminha ainda é um
tipo muito vivo na memória do público. Você teve algum receio em fazer
outra personagem recheada de vilanias em Babilônia?
Não. Desde que fui convidada, eu sabia que a personagem seguiria por
um caminho pouco ortodoxo. O modo como se portam e o tipo de trabalho
ajudam a distanciá-las. Carminha tinha aquele humor corrosivo, irônico e
sem vergonha, que garantiu o enorme apelo popular que persiste até
hoje. A Inês já é do tipo obsessiva, não é de uma linha mais tradicional
de vilãs. Não a considero totalmente má, inclusive.
Por quê?
A construo como uma mulher eternamente insatisfeita, que acha que a
grama do vizinho é sempre mais verde, não consegue viver com o que tem.
Inveja existe em todos nós. Não só a gente sente como já sentiram da
gente. É normal do ser humano. O bebê tem inveja do peito da mãe. É
inconsciente. Os dilemas em Babilônia são outros. Portanto, não vi
problema em retornar aos folhetins com essa personagem. Na primeira
parte dos anos 2000 eu acumulei muitas heroínas cômicas, é uma fase.
Você sente falta de passear por trabalhos mais leves?
A minha carreira vive um momento muito pleno. Faço o que tenho
vontade e aparecem convites maravilhosos. Sempre vou querer fazer
comédia e sei que daqui a pouco devo voltar ao riso. Mas, no momento,
estou onde quero estar. Inês é aquele tipo de personagem que tira a
intérprete do lugar comum.
Como assim?
Já fiz mulheres decididas, mocinhas sonhadoras e vilãs ardilosas. A
Inês não entra nesses escaninhos. Ela é amargurada, mas não por ter
fracassado na vida. Ela não quer o poder, quer apenas viver a vida de
outra pessoa, no caso, da Beatriz (Glória Pires). Essa é a maior glória e
sofrimento da personagem. Ela é regida por essa inveja e faz de tudo
para estar perto dessa amiga, nem que seja apenas para passar por
humilhações. Acho que faltava na minha trajetória um papel feminino com a
assinatura do Gilberto (Braga). O texto é primoroso, a gente lê e logo
percebe o quanto cada fala é importante para a cena.
Alguma cena em especial chamou a sua atenção?
A sequência de reencontro da Inês e da Beatriz, ainda na primeira
fase da trama. A equipe de autores conseguiu, em poucos minutos, resumir
as personagens e mostrar ao público a real dimensão delas. Eu odeio me
ver na tevê. Não consigo olhar nem trabalhos antigos, imagina os novos!
Mas vi um pouco dessas cenas e me veio aquele sentimento bom de estar em
um projeto desse porte.
Em algum momento você já teve oportunidade de trabalhar com Gilberto, mas não pôde aceitar?
Não tinha sido convidada ainda. Já tinha trabalhado sob a direção do
Dennis (Carvalho) e com o Ricardo (Linhares), que pertencem ao núcleo de
trabalho do Gilberto, mas nunca com ele. Fiquei muito lisonjeada com o
convite, tanto que aceitei na hora. A telenovela é muito presente na
vida do brasileiro. E o Gilberto, depois de tantas tramas clássicas,
acabou tornando-se uma grife. É um upgrade na vida de qualquer atriz. Em
26 anos de televisão, eu tive alguns momentos muito importantes e acho
que a Inês é mais um.
Quais outras personagens também representam esses pontos de virada na sua carreira?
São muitas. Pedra sobre pedra foi minha primeira protagonista, em
Renascer aprendi a lidar com críticas e a me superar, A indomada e Torre
de Babel foram trabalhos deliciosos que me deram versatilidade. Em O cravo e a rosa e nas temporadas de Toma lá, dá cá, mergulhei na comédia.
E logo depois fiz um dos meus trabalhos mais complexos em Dalva e
Herivelto - uma canção de amor, até Avenida Brasil e aquele estouro que
foi a Carminha e a novela como um todo. Quando a gente está trabalhando e
gosta do que faz, o upgrade é todo dia. Cada projeto torna-se muito
significante.
Você costuma passar muito pouco tempo distante dos estúdios
de televisão. O que a levou a ficar quase três anos sem ser escalada
para uma novela?
Eu precisava desse tempo e a emissora também queria que o público
esquecesse um pouco de Avenida Brasil para eu poder voltar ao ar. Mas
fiz a minissérie do Fernando (Meirelles) em 2014 e ainda utilizei esse
tempo livre para fazer dois filmes, o Mundo cão, do Marcos Jorge, e o
Beleza, do Jorge Furtado, que devem ser lançados até o final do ano. Não
fiquei tanto tempo parada em casa. Acho que nem conseguiria.
Babilônia,
Globo, segunda a sábado, às 21h
Riso solto
O momento denso na carreira de Adriana Esteves chega após ela passar
cerca de uma década fazendo humor. A primeira experiência com o gênero
foi sob a batuta de Walcyr Carrasco em O Cravo e a Rosa, de 2000, onde
viveu a espevitada Catarina. "Cheguei a duvidar se conseguiria ter o
timing para a comédia. Era algo muito distante de mim e foi libertador",
conta.
Com sua verve cômica descoberta, autores e diretores ficaram de olho
no passe da atriz, que enveredou por protagonistas recheadas de humor em
produções como Kubanacan, A Lua Me Disse e Toma Lá, Dá Cá. "Foi um
momento muito divertido da minha carreira. Esses trabalhos deram leveza
ao meu processo criativo. Hoje, já posso dizer que sei fazer rir um
pouquinho também", ressalta.
Certo medo de avião
Adriana Esteves vive a contradição de adorar viajar, mas ter certo
medo de avião. No entanto, quando o assunto é trabalho, ela acaba
deixando seus receios de lado. Em 2011, a atriz teve de ir até o Japão
para gravar as sequências iniciais de Morde & Assopra. No final do
ano passado, foi a fez de Esteves conhecer a riqueza dos Emirados
Árabes. Dubai foi a cidade escolhida para ambientar suas primeiras cenas
em Babilônia. "Foram 14 longas horas de voo até Dubai. Mas é uma
experiência riquíssima. Adoro a possibilidade de viajar a trabalho,
ainda mais para um país com cultura e hábitos tão diferentes", valoriza.
Notícia publicada na edição de
11/04/15 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 001 do caderno Mais Tv
Adriana Esteves se esforçou muito para chegar onde está. A resposta para as críticas que recebeu no início da carreira são os muitos prêmios e vários papéis de protagonistas que ela ostenta no currículo. Aos 45 anos, Esteves sabe que não precisa provar mais nada. No entanto, não consegue viver estagnada. E é com curiosidade e fôlego de iniciante que ela fala de Inês, sua invejosa personagem em Babilônia. "O mais interessante da carreira de atriz é o quão tudo pode ser surpreendente. Quando você acha que já fez de tudo, vem uma personagem e te faz buscar novas referências e seguir por outros caminhos. Inês é exatamente esse tipo de papel. Acredito que eu ainda estou a encontrando", explica.
Com reconhecida versatilidade e tendo trabalhado com autores dos mais diversos, a participação na atual novela das nove marca o encontro de Esteves com o texto elegante de Gilberto Braga. "Sempre fui fã das novelas dele. Fiquei bem nervosa quando fui convidada", entrega, com os olhos atentos que ainda lembram a jovem modelo que ganhou um concurso de atuação no Domingão do Faustão, em 1989.
Foi por conta dessa vitória que a atriz teve sua primeira oportunidade na tevê, um papel pequeno na clássica Top model. A partir daí, se destacou em novelas como Meu Bem, Meu Mal e Pedra Sobre Pedra. Mas também teve de enfrentar uma enxurrada de críticas pela complexa Mariana de Renascer. Após uma breve passagem pelo SBT, retornou à Globo e ao posto de protagonista em A Indomada, de 1997. "Tudo o que passei me ajudou a ser a atriz que sou hoje", analisa Esteves, que ainda teria outros momentos de destaque em produções como Dalva e Herivelto uma Canção de Amor, de 2010, e na popular Avenida Brasil, de 2012. "A vida não é só ganhar. É preciso entender isso e saber seguir em frente", afirma.
Suas últimas personagens na tevê, em produções como Avenida Brasil e Felizes para sempre?, tiveram forte carga dramática. Continuar nesta linha de atuação foi uma decisão sua?
Eu não traço planos do tipo "agora vou fazer apenas comédia" ou "chega de fazer personagens densas". Os convites vão aparecendo e vou vendo o que me instiga, para qual caminho quero seguir. Embora sejam personagens fortes, dramáticas e insatisfeitas com suas trajetórias, Carminha, Tânia e Inês são extremamente diferentes.
Avenida Brasil foi exibida em 2012 e Carminha ainda é um tipo muito vivo na memória do público. Você teve algum receio em fazer outra personagem recheada de vilanias em Babilônia?
Não. Desde que fui convidada, eu sabia que a personagem seguiria por um caminho pouco ortodoxo. O modo como se portam e o tipo de trabalho ajudam a distanciá-las. Carminha tinha aquele humor corrosivo, irônico e sem vergonha, que garantiu o enorme apelo popular que persiste até hoje. A Inês já é do tipo obsessiva, não é de uma linha mais tradicional de vilãs. Não a considero totalmente má, inclusive.
Por quê?
A construo como uma mulher eternamente insatisfeita, que acha que a grama do vizinho é sempre mais verde, não consegue viver com o que tem. Inveja existe em todos nós. Não só a gente sente como já sentiram da gente. É normal do ser humano. O bebê tem inveja do peito da mãe. É inconsciente. Os dilemas em Babilônia são outros. Portanto, não vi problema em retornar aos folhetins com essa personagem. Na primeira parte dos anos 2000 eu acumulei muitas heroínas cômicas, é uma fase.
Você sente falta de passear por trabalhos mais leves?
A minha carreira vive um momento muito pleno. Faço o que tenho vontade e aparecem convites maravilhosos. Sempre vou querer fazer comédia e sei que daqui a pouco devo voltar ao riso. Mas, no momento, estou onde quero estar. Inês é aquele tipo de personagem que tira a intérprete do lugar comum.
Como assim?
Já fiz mulheres decididas, mocinhas sonhadoras e vilãs ardilosas. A Inês não entra nesses escaninhos. Ela é amargurada, mas não por ter fracassado na vida. Ela não quer o poder, quer apenas viver a vida de outra pessoa, no caso, da Beatriz (Glória Pires). Essa é a maior glória e sofrimento da personagem. Ela é regida por essa inveja e faz de tudo para estar perto dessa amiga, nem que seja apenas para passar por humilhações. Acho que faltava na minha trajetória um papel feminino com a assinatura do Gilberto (Braga). O texto é primoroso, a gente lê e logo percebe o quanto cada fala é importante para a cena.
Alguma cena em especial chamou a sua atenção?
A sequência de reencontro da Inês e da Beatriz, ainda na primeira fase da trama. A equipe de autores conseguiu, em poucos minutos, resumir as personagens e mostrar ao público a real dimensão delas. Eu odeio me ver na tevê. Não consigo olhar nem trabalhos antigos, imagina os novos! Mas vi um pouco dessas cenas e me veio aquele sentimento bom de estar em um projeto desse porte.
Em algum momento você já teve oportunidade de trabalhar com Gilberto, mas não pôde aceitar?
Não tinha sido convidada ainda. Já tinha trabalhado sob a direção do Dennis (Carvalho) e com o Ricardo (Linhares), que pertencem ao núcleo de trabalho do Gilberto, mas nunca com ele. Fiquei muito lisonjeada com o convite, tanto que aceitei na hora. A telenovela é muito presente na vida do brasileiro. E o Gilberto, depois de tantas tramas clássicas, acabou tornando-se uma grife. É um upgrade na vida de qualquer atriz. Em 26 anos de televisão, eu tive alguns momentos muito importantes e acho que a Inês é mais um.
Quais outras personagens também representam esses pontos de virada na sua carreira?
São muitas. Pedra sobre pedra foi minha primeira protagonista, em Renascer aprendi a lidar com críticas e a me superar, A indomada e Torre de Babel foram trabalhos deliciosos que me deram versatilidade. Em O cravo e a rosa e nas temporadas de Toma lá, dá cá, mergulhei na comédia. E logo depois fiz um dos meus trabalhos mais complexos em Dalva e Herivelto - uma canção de amor, até Avenida Brasil e aquele estouro que foi a Carminha e a novela como um todo. Quando a gente está trabalhando e gosta do que faz, o upgrade é todo dia. Cada projeto torna-se muito significante.
Você costuma passar muito pouco tempo distante dos estúdios de televisão. O que a levou a ficar quase três anos sem ser escalada para uma novela?
Eu precisava desse tempo e a emissora também queria que o público esquecesse um pouco de Avenida Brasil para eu poder voltar ao ar. Mas fiz a minissérie do Fernando (Meirelles) em 2014 e ainda utilizei esse tempo livre para fazer dois filmes, o Mundo cão, do Marcos Jorge, e o Beleza, do Jorge Furtado, que devem ser lançados até o final do ano. Não fiquei tanto tempo parada em casa. Acho que nem conseguiria.
Babilônia,
Globo, segunda a sábado, às 21h
Riso solto
O momento denso na carreira de Adriana Esteves chega após ela passar cerca de uma década fazendo humor. A primeira experiência com o gênero foi sob a batuta de Walcyr Carrasco em O Cravo e a Rosa, de 2000, onde viveu a espevitada Catarina. "Cheguei a duvidar se conseguiria ter o timing para a comédia. Era algo muito distante de mim e foi libertador", conta.
Com sua verve cômica descoberta, autores e diretores ficaram de olho no passe da atriz, que enveredou por protagonistas recheadas de humor em produções como Kubanacan, A Lua Me Disse e Toma Lá, Dá Cá. "Foi um momento muito divertido da minha carreira. Esses trabalhos deram leveza ao meu processo criativo. Hoje, já posso dizer que sei fazer rir um pouquinho também", ressalta.
Certo medo de avião
Adriana Esteves vive a contradição de adorar viajar, mas ter certo medo de avião. No entanto, quando o assunto é trabalho, ela acaba deixando seus receios de lado. Em 2011, a atriz teve de ir até o Japão para gravar as sequências iniciais de Morde & Assopra. No final do ano passado, foi a fez de Esteves conhecer a riqueza dos Emirados Árabes. Dubai foi a cidade escolhida para ambientar suas primeiras cenas em Babilônia. "Foram 14 longas horas de voo até Dubai. Mas é uma experiência riquíssima. Adoro a possibilidade de viajar a trabalho, ainda mais para um país com cultura e hábitos tão diferentes", valoriza.
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