Adriana Esteves: “A mulher pode e deve viver de acordo com seus anseios, independentemente da idade”
Atriz abre o jogo sobre a chegada aos 50 e vida na pandemia ao lado dos filhos e do marido,
Vladimir Brichta. Ela está de volta como Thelma na fase final da novela "Amor de Mãe"
Talvez essa seja uma das maiores dores de uma mãe: enxergar sua vida finita e deixar um filho. Digo talvez porque existe outra maior, pra mim, do que essa, que é perder um filho. Esses pensamentos estiveram em mim durante toda a criação. Mas a necessidade do distanciamento é grande em situações como essas. É preciso ter bastante maturidade (risos).
Você tem recebido relatos de telespectadoras neste sentido?
Várias mães mencionam a dor, quando pensam na hipótese de um dia faltar, mas, ao mesmo tempo, é também um assunto velado. A morte em si é um assunto velado. Sabemos que vai ocorrer, mas acho que preferimos não pensar nela.
Você esteve no ar durante o confinamento com personagens completamente diferentes: a Carminha, de Avenida Brasil, a Thelma e também a Catarina, de O Cravo e a Rosa, sucesso na Globoplay. Como foi se rever nesses papéis?
Sou bem apaixonada por minhas “filhas” (risos). Três personagens muito diferentes, vividas em fases diferentes da minha vida. As três me enchem de orgulho e me fizeram crescer muito com elas.
A Carminha, aliás, é uma das vilãs preferidas do público e segue conquistando fãs no streaming.
Carminha foi a personagem mais avassaladora de minha vida. Com ela, pude colocar em prática muito que sempre pensei na atuação. Exercitar o verdadeiro, o espontâneo, dar asas à criatividade, crer que tudo é possível. Infinitas possibilidades. João Emanuel Carneiro me deu esse enorme presente.
Outro trabalho seu que repercutiu muito foi a série Assédio, de 2018. Como foi abordar a questão da violência contra a mulher na TV?
Assédio denuncia a brutalidade existente em certos indivíduos da sociedade. Essa história verídica me monopolizou muito ao passo que fui sabendo detalhes da luta de tantas mulheres vítimas daquele monstro (a produção baseada no caso do médico Roger Abdelmassih, que abusou de pacientes). Minha personagem teve a responsabilidade de apresentar essas dores gravíssimas vividas. Uma série feita basicamente por mulheres. Contou com a excelente concepção e direção de Amora Mautner, além de um elenco de excelentes atrizes.
Personagens femininas que fogem da mocinha clássica ganham cada vez mais força. Como você vê essa mudança?
Vejo a mulher crescendo dentro e fora da tela. Muitas deixaram de ser invisíveis. A dramaturgia está dando voz a tantas de nós. Momento necessário e rico.
A dramaturgia está representando bem essa mulher pós-50, com suas questões e inquietações?
Acho que esse espaço para a apresentação de mulheres mais maduras, suas dores, suas belezas, suas histórias, está a cada dia sendo mais revelado, e vai seguindo o empoderamento feminino.
Todas nós, mulheres, vítimas de um machismo histórico, ao longo dos anos sofremos muitos tipos de preconceito e dentre eles os rótulos no que dizem respeito às idades. Como se só nos fosse autorizado para cada faixa etária um determinado tipo de comportamento. Gosto muito de ver a libertação desses padrões. A mulher pode e deve viver de acordo com seus anseios, independentemente de uma idade cronológica.
Hoje estou como imaginava que estaria. Com meus filhos, minha profissão, mais equilíbrio em relação à vida, casada com um parceiro que é um grande companheiro.
A publicidade está começando a atentar para representar melhor as mulheres de várias faixas etárias. Como você vê essa mudança?
Ainda temos um caminho pela frente, mas sem dúvida diminuiu a idolatria somente por mulheres jovens. Grandes mulheres estão mostrando suas vidas e histórias e abrindo foco para a admiração e o respeito à maturidade.
Você já disse que vivencia a maternidade plenamente também com a Agnes, sua enteada, além de seus dois filhos. Para você, como é o papel de “mãedrasta”?
Agnes foi um presente que veio para mim muito cedo. A conheci quando ela tinha apenas quatro anos. Ser mãe dela foi aprender a amar uma pessoa diferente que já vinha com sua pequena grande história. Ela me ensina muito na maternidade. Ela é um elo de enorme harmonia com os irmãos.
Em tempos de relações efêmeras, como é estar num relacionamento longevo, como o seu e de Vladimir?
Eu e Vladi tivemos um lindo encontro. Ele é realmente o meu amor. Nesses 17 anos que estamos juntos, construímos e crescemos muito juntos. Temos muitas semelhanças. Nosso olhar para a vida dá esperança para construir muito mais. E somos namorados. Ele é o homem que sempre sonhei. Um homem que admiro muito e ama ser meu namorado. Eu não saberia viver sem esse romance. Mantemos mesmo nosso romance, por puro prazer.
Como você está encarando o período de pandemia?
Está sendo difícil para o mundo inteiro. Em nosso país, por vários motivos evidentes de desgoverno, isso se agrava. Minha preocupação com o coletivo é enorme. As diferenças sociais escancaradas. Dentro de casa, procuramos nos preparar desde o início para tantas mudanças e privações. Ter conscientização e responsabilidade com o outro. É doído ver o isolamento de meus pais, meus filhos adolescentes sem aula, sem o convívio com amigos... Mas estamos conseguindo uma grande harmonia familiar. Conseguindo ajudar financeira e psicologicamente quem precisa à nossa volta. É uma luta diária para tomar atitudes e medidas saudáveis.
O que você espera da retomada do audiovisual?
O pós-pandemia será muito rico para a cultura. Há vários projetos que precisam ser viabilizados. Mas precisamos do apoio e incentivo.
Quais seu projetos para o ano?
Neste início de ano, estou dedicada à reestreia de Amor de Mãe. Estou muito feliz por termos conseguido finalizá-la. Torcendo também para que haja o lançamento de dois filmes de que participei: Marighella, de Wagner Moura, e Medida Provisória, de Lázaro Ramos. Na verdade, estou torcendo muito pela vacina, para que em breve possamos estar fazendo vários filmes, teatros, séries e novelas.